Léo Portela escreve artigo sobre BH

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                     O resgate da coerência

O ano de 2008 foi um ano atípico para a política belorizontina, vivíamos tempos de indefinição no Curral Del Rey, era o fim do segundo mandato de Fernando Pimentel, último prefeito petista a ocupar a 1212, e segundo mandato de Aécio Neves como Governador de Minas Gerais, dois governos muito bem avaliados e politicamente adversários.

É comum ao final do mandato de um grande governante, que a sua popularidade e sua competência joguem sombras e dúvidas sobre o seu sucessor. O medo do novo diante de um sucesso já estabelecido, traz consigo a velha máxima de que “em time que está ganhando não se mexe.” Esperava-se pelos nomes escolhidos para o grande embate entre projetos políticos antagônicos que anteciparia o cenário nacional de 2010, mas, para frustração de muitos, não foi o que aconteceu.

Sensíveis ao que se passava na cena política local, Aécio e Pimentel decidiram unir forças inesperadamente e, em uma aliança polêmica, apoiaram Márcio Lacerda, Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Aécio, para Prefeito de Belo Horizonte. A eleição foi acirrada, o belorizontino é desconfiado e não aceitou bem o posicionamento de suas maiores lideranças, aguardávamos o embate derradeiro, o Armagedom, a apresentação de ideias opostas, tese e antítese, que criariam a síntese perfeita, parida pelo voto da nossa gente, mas o espetáculo da democracia foi adiado.

A experiência foi boa e ruim. Boa, pois revelou Márcio Lacerda como o melhor Prefeito do Brasil e ruim, pois foi o triunfo do pragmatismo sobre a coerência.  Mesmo que Márcio Lacerda, com sua visão de gestão para resultados e administração científica se aproximasse muito mais do modelo proposto por Aécio/Anastasia no Governo de Minas, o outro polo da aliança insistia na paternidade dos grandes resultados obtidos pela Prefeitura de Belo Horizonte e, como ambos os lados estavam no mesmo aglomerado, a população recebia uma comunicação embaçada da realidade.

Assim, a dialética da coerência política, que seria o canal de inteligibilidade da população diante da autoria das ações de governo, restava míope, pois tal governo era fruto de um ajuntamento de opostos. Não havia a clareza necessária entre situação e oposição, apenas uma massa desforme que entregava a produção democrática normatizadora e reguladora da sociedade através de uma produção conjunta de autoria duvidosa.

Felizmente a experiência de convívio sob o mesmo teto não prosperou, a sanha fisiológica do PT fez com que o frágil equilíbrio fosse por água abaixo quando, impedido de parasitar o PSB em sua chapa de vereadores, o partido abriu espaço para que Aécio articulasse o resgate da coerência e os expurgasse da aliança.

Subitamente, todas as peças se moveram no tabuleiro, o PT, através de sua direção nacional em São Paulo, em conluio com o Palácio do Planalto, enquadrou o diretório municipal, que elegeu  legítima e democraticamente seu Presidente Roberto Carvalho como representante do partido para o pleito, e impôs um candidato biônico, Patrus Ananias, como ungido da cúpula para o desafio de outubro.

Ao perceberem a interferência de outro Estado em nossa política local, os partidos alinhados a Aécio e Anastasia, mesmo aqueles com postulações próprias, abdicaram de seus projetos unindo-se a Márcio Lacerda para a construção de um sonho maior, forjado no embate legítimo e democrático de lados opostos, que resgata a coerência e nos remete a uma realidade que é inequívoca: Existem dois lados distintos, aqueles que aceitam a intervenção do eixo São Paulo – Planalto em nossa terra, maculando o “primeiro compromisso de Minas”, ao viver do poder para o poder,  entregando a soberania político-partidária de Belo Horizonte, e aqueles que não admitem qualquer forma de ingerência na política da nossa terra, entendendo a necessidade de uma cidade governada de maneira eficiente, sensível , soberana e eficaz, com a retomada do protagonismo do belorizontino e com a certeza de que o futuro do Brasil passa necessariamente pela Serra do Curral.

 Fonte: http://www.leoportela.com.br/

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